É segunda-feira de manhã, chegamos uma hora mais cedo em Chapecó, em curtos minutos finalizamos a montagem do cenário e somente nos resta esperar o horário marcado com o técnico de cultura do SESC daqui e assim será montada a luz e faremos à passagem de som.
Eu tenho uma pulga atrás da orelha ao usar a expressão “pé na estrada”, onhecida por conta do livro “On the Road”, obra seminal de Jack Kerouac, servindo de inspiração aos jovens viajantes da década de 1960 saírem cruzando os Estados Unidos da América. No livro, o personagem principal cai na estrada com pouco mais de 50 dólares, pega caronas e estabelece o conceito do que é importante ir, mesmo com o destino incerto.
A pulga é por conta do padrão, é por conta do estereotipo estabelecido de que jovens com os pés nas estradas estão seguindo Kerouac. Longe de mim, até mesmo dos meninos, Vini e Alex, transmitirem a imagem de sermos os mais novos seguidores de Kerouac. O Alex conhece pouco do escritor, o Vini ganhou “On the road” de uma grande amiga e somente agora o está lendo, enquanto eu estou mais interessado nos poemas e na vida de Allen Ginsberg, amigo e parceiro literário de Kerouac.
Outro ponto fundamental da diferenças entre nossa viagem e a Kerouac são as condições materiais. Na turnê o importante não é simplesmente ir, aqui matemos destinos certos, transporte definido, hospedagem e alimentações de qualidades, sem contar que ainda estamos recebendo por esses dias nas estradas catarinenses.
Agora, seu Nelson, o nosso motorista, está sentando nas cadeiras do teatro, Alex está no camarim número 02, Vini está deitado no palco olhando para o teto e pensando de como fizemos planos durante a graduação e pouco realizamos. Enquanto eu penso que a fundamental influência de Kerouac na minha vida foi com a frase “cansei de vagabundear no campus univertisário”, me ajudando para sair da graduação. Esses são diferentes elementos que nos afasta do ato romântico de pegar as estradas.
por Maikon K - escrito na última segunda-feira.
3 comentários:
E vc acha que sair por aí, mesmo que patrocinado e com rumo certo, mas mantendo acesa a chama da arte, do teatro, conhecer pessoas, viver uma experiência que poucas pessoas têm/terão, não é um ato romântico? Pode não ser desmedido como foi o do Kerouac, mas não deixa de ser uma coisa bonita, apenas numa singularidade diferente do nosso amigo beat...
No fundo do meu coração vem crescendo uma frustração que, ainda, não sei onde está sua raiz: se na simples falta de horizontes que minha vida em Guaratuba tem mostrado ou se no não cumprimento de grandes planos que fiz antes e durante a graduação.
nada on the road, mas daria um bom road movie.
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